"Lisboa, 27 de setembro
Querida Marta,
Estou pasmada com a conversa que tive com o João Pedro. Não me podia passar pela cabeça que ele tivesse talentos ocultos e, muito menos, que ele fosse, afinal, tão sensível. Vou tentar reproduzir o nosso diálogo, porque julgo que o decorei de uma ponta à outra.
Primeiro, foi ter comigo ao bar e chamou-me de parte. Fez-me sentar a uma mesa no canto mais sossegado e disse-me:
- Queria conversar contigo sobre o projeto que te falei, mas, antes disso, não quero deixar de te dizer que lamento imenso o que aconteceu com a Marta e calculo que deves estar a passar um mau bocado... Se precisares de mim, já sabes.
Fiquei de boca aberta. Acho que só consegui balbuciar:
- Obrigada, João.
Depois, sentou-se ao meu lado, tirou umas folhas daquela pasta caquética com que anda sempre e começou.
- Ora bem, isto aqui é apenas um plano. Está só em rascunho. Deve estar cheio de erros...
Pedi-lhe que se deixasse de tretas e me mostrasse.
- Eu prefiro falar primeiro.
- Então desembucha, que daqui a pouco toca.
- Bom, a ideia tem justamente a ver com... a morte da Marta.
Engoli em seco.
(...)"
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